Pesquisadores do IMPA criam seu próprio ‘metaverso’ colaborativo

Cecília Manzoni

Em poucos anos, habitaremos universos virtuais tão detalhados e imersivos que quase não saberemos diferenciá-los do mundo real. A previsão é do fundador do Facebook, Mark Zuckerberg,  que, há um mês, mudou o nome de sua empresa para Meta, em sinal da sua aposta na popularização do metaverso, um conjunto de universos virtuais que vem sendo considerado o próximo capítulo da internet. De olho nessa transformação, pesquisadores do IMPA estão desenvolvendo um ambiente virtual de realidade compartilhada para chamar de seu, no qual interagem por meio de avatares, fazem longas reuniões, expõem seus trabalhos e até mesmo tiram selfies.

Criado pelo Visgraf (o Laboratório de Computação Gráfica do IMPA) e pelo Centro Pi (Centro de Pesquisa e Inovação do IMPA), o projeto será apresentado no sábado (4) no 7º VFXRio, conferência sobre efeitos visuais patrocinada pela Rede Globo e pela Intel. E o metaverso será justamente o tema desta edição do evento, que reúne especialistas nacionais e internacionais na produção de efeitos visuais para cinema e tv, games e novas tecnologias.

O pesquisador-líder do Visgraf, Luiz Velho, acredita que a pandemia, ao trazer novas demandas para a comunicação humana, impulsionou o desenvolvimento dos metaversos, que podem ser descrito como um conjunto de universos virtuais criados a partir de tecnologias como a realidade virtual e a realidade aumentada, e amplificados por ferramentas da internet. 

“As tecnologias que já existiam foram potencializadas porque as pessoas começaram a precisar usar certas plataformas como Zoom, Google Meet e etc. Esta é uma maneira de fazer reuniões virtuais, mas não é a melhor maneira. Já existia a tecnologia de realidade virtual para fazer outras coisas”, reflete. 

Selfie de pesquisadores e colaboradores do IMPA na sala virtual do Centro Pi.

Com a expertise do Visgraf, surgiu então a ideia de usar a realidade virtual para criar um ambiente de trabalho colaborativo entre os pesquisadores, conta Velho. “O pessoal da área de jogos já tinha criado chat rooms em realidade virtual. Passamos meses estudando todas as plataformas, testando com óculos de realidade virtual modernos, até que escolhemos uma e começamos a desenvolver os avatares e espaços”, detalha.

Reuniões, múmias, coração e artérias: o espaço imersivo do metaverso do IMPA

Se no começo dos encontros o grupo evitava passar mais do que 15 minutos no ambiente de realidade compartilhada, aos poucos, foram esquecendo que se tratava de um metaverso, passando horas na experiência. “O espaço é tão imersivo que você esquece que aquilo não é a realidade. Tem dias que fazemos reuniões de duas, três horas. Os avatares de cada colaborador têm expressões próprias, os sons são graduais à medida que você vai se afastando de algum objeto ou pessoa”, conta Jorge Lopes, tecnologista do Centro Pi. 

Jorge Lopes, tecnologista do Centro Pi, e Gerson Ribeiro, pesquisador do Instituto TECGRAF da PUC-Rio, com a recriação da múmia da jovem romana Karima, peça do Museu Nacional.

E não são só reuniões. Quem circular pelo espaço virtual desenvolvido pelo IMPA poderá passear por uma galeria que expõe projetos em realidade virtual e aumentada já desenvolvidos pelo Visgraf e pelo Centro Pi, como a reconstrução digital da múmia da jovem romana Karima, peça do Museu Nacional afetada pelo incêndio de 2018. Também é possível encontrar réplicas em terceira dimensão de um coração e artérias humanas, que vêm sendo desenvolvidas em projetos da área da saúde e medicina do Centro Pi. 

Réplicas em terceira dimensão de um coração e artérias humanas.

O espaço virtual conta com a sala na qual ocorrerá a sessão de perguntas e respostas do painel “Novas mídias para uma realidade em expansão”, que será apresentado pelo Visgraf e pelo Centro Pi no primeiro dia de programação do 7º VFXRio. A conversa começa às 11h10, após uma palestra na qual Luiz Velho fará um panorama da realidade virtual desde a década de 1950 até hoje, com a chegada do metaverso. “Oito pessoas vão participar da sessão no metaverso, em realidade virtual 3D e ao vivo, cada um com seus avatares. Fizemos vários ensaios, mas mesmo assim dá nervoso, porque pode dar errado”, comenta o pesquisador-líder do Visgraf, apreensivo mas empolgado com a novidade. 

Apesar de soar distópico, a tendência é que, em um futuro próximo, cada vez mais esferas da vida real possam ser experimentadas no metaverso, de acordo com especialistas. Um relatório do Bank of America de setembro lista essa tecnologia entre as 14 que, segundo a instituição, irão revolucionar a vida no planeta. O documento afirma que o metaverso, junto das outras 13 tecnologias, vai gerar uma forte economia que englobará tanto o mundo do trabalho quanto o do lazer e, ao mesmo tempo, transformará indústrias e mercados tradicionais, como a das finanças, dos bancos, do comércio da educação e do universo da saúde e fitness. 

A opinião é compartilhada pelo presidente da Associação Brasileira de Tecnologia Visual e diretor do VFXRio, Matteo Moriconi. Moriconi escreveu um manifesto sobre como a realidade virtual e aumentada estão criando caminhos inéditos para a experiência humana, como o metaverso. “Facebook e outros gigantes da tecnologia estão investindo somas incríveis no metaverso. Nossa ideia com o evento é apresentar uma visão do futuro e discutir como esta tecnologia vai impactar na nossa forma de ver o mundo. Vai ser imperdível”, escreveu. 

O VFXRio acontece em 4 e 5 de novembro. As inscrições são gratuitas e estão abertas no site do evento. No domingo (5), profissionais da Globo vão compartilhar a experiência de como foi criar efeitos visuais durante a pandemia, com formas de gravar e pós-produzir quase 100% remotas, desde a pré-produção até finalização de um projeto.

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